quinta-feira, julho 26, 2007

Açores - O Assalto Insular

Escreve-vos o (grande) autor directamente da ilha do Faial, utilizando a internétxi do mestre Peter.
Como aqui ainda são 10h28m da matina, ainda é o rato que está na mão direita, em vez do famoso gin tónico.
Lá para as 10h50m a conversa será outra, mais entaramelada, claro.
Aterrado na segunda de manhã na Terceira e vista esta pela primeira vez, ao fim do dia a SATA não perdeu qualquer mala e largou o vosso amigo no Faial, onde se situa o quartel-general deste assalto insular.
Até agora há três aspectos a destacar, para além de toda esta beleza natural e da simpatia das pessoas.

1º - A quantidade de vacas que por aqui pastam. Uma autêntica Índia, estas ilhas. As vacas pastam onde querem, como querem e quando querem, sendo o humano a desviar-se delas em vida, mas deglutindo-as (saborosamente) em morte.

2º - A falta de pessoas bonitas. Dizeram-me por aqui que está tudo nos genes. Derivado à insularidade, as pessoas vão acasalando com primos e afins e a coisa acaba por resultar em taxas de pessoas bonitas abaixo dos 10%. Claro que toda a regra tem a sua excepção, como comprova aquela moçoila avistada no porto da Horta. Pelo menos ao longe parecia uma moçoila.

3º - O Tuning - É um fenómeno de escape social, está claro. Derivado à insularidade e à falta de cinemas, o pessoal mais jovem, em vez de ir fazer amor para o mato (porque aqui ainda não há o subsídio por maternidade) vai antes fo$#r os ouvidos aos habitantes e turistas que inocentemente se passeiam pelas avenidas marginais. No mínimo, bizarro.

De partida para o encontro com as baleias, máquina a tiracolo e meio quilo de creme no nariz, como manda a lei.

at'jâ

sábado, julho 21, 2007

Cinema

Ontem foi o (grande) autor ao cinema, convencido de que iria ver um bom filme - Alpha Dog - estando, porém, redondamente enganado.
Depois de meia-hora de filme, arrependidos de não terem ido cortar os pulsos em vez de entrarem no cinema, o (grande) autor e sua companhia começaram a ouvir um telemóvel que soava demasiado alto.
De facto, não era um télélé, mas sim o alarme de incêndio.
Os 3 jovens mauzões que na última fila não tinham parado de sussurrar em voz alta desde o início do filme, deixaram atrás de si uma nuvem de poeira, tal foi a velocidade com que atravessaram a porta de saída.
Chegados cá fora, o empregado do cinema acalmou as hostes, dizendo que o alarme tinha disparado não se sabia porquê, mas que devia ser um problema técnico.
Pelo ar dele, bem poderia estar uma das salas a arder, que ele ia continuar a pensar que tinha sido um problema técnico.
Bom, voltados às salas, começou a desenhar-se na (grande) mente uma escapadela digna de Rambo III.
Conferenciou com a sua companhia e dirigiram-se às bilheteiras, pedindo o dinheiro dos bilhetes de volta, dada à interrupção do filme, que até aí ainda não tinha recomeçado.
Assim, graças ao problema técnico (ou à sala a arder) os 4,5€ voltaram aos bolsos dos inventores da modalidade "veja-o-filme-se-não-ficar-totalmente-satisfeito-devolvemos-lhe-o-seu-dinheiro".

terça-feira, julho 17, 2007

Cinco Oradores E Um Funeral

No domingo foi o funeral.
Foi o funeral mais bonito a que já fui.
Em pleno centro funerário (porque o meu Pai era tão religioso como o Pinto da Costa inocente) montámos um projector, um portátil e um ecrã.
Enquanto eu, a minha irmã e três amigos líamos, à vez, uns textos e dois poemas em sua memória, iam passando fotografias recentes e antigas, todas de criar-lágrima-no-canto-do-olho.
Depois seguiu para o crematório (porque o meu Pai queria as cinzas espalhadas numa das nossas muitas praias), terminando com uma valente salva de palmas.

O meu Pai, sempre que íamos a um funeral, dizia-me, em susurro:
- Mas porque é que as pessoas querem ser enterradas? Já viste o desperdício de espaço? Já viste quantos campos de futebol é que se faziam nas zonas dos cemitérios??

Pedimos ainda às pessoas para, além de não virem de preto, em vez de trazerem flores (que apodrecem dois dias depois e vão para o lixo) trazerem um cheque à ordem da União Zoófila, para ajudarmos os cães e os gatos, que tanto precisam.
Até agora já conseguimos 430€, o que com toda a certeza deixa o meu Pai contentíssimo.

Foi mesmo bonito (para um funeral).

Até já, Pai.
Vai lá andando que um gajo já lá vai ter.

quinta-feira, julho 12, 2007

O Meu Pai Foi Andando

(suspiro)
O meu pai não resistiu e decidiu partir.
Como eu costumo dizer, foi andando e depois um gajo vai lá ter, mais tarde.
É o dia mais triste da minha vida.

Mas, para completar o rodopio de emoções, recebi hoje também a última nota que faltava.
Passei e acabei o curso.
Que vitória com sabor amargo.

Queria agradecer a todos os que durante estes dias difíceis ajudaram, transmitindo palavras de apoio, escritas ou faladas.

Enfim, como diz um amigo meu quando já tem pouco sangue no álcool:
"Oh amigo, iss' pa um gajo morrer, só basta é tar bibo."

É continuar, com o humor de um lado e a memória do outro.

quinta-feira, julho 05, 2007

O Que Faz Mais Confusão

Em ir a um hospital todos os dias é que, para chegar aos cuidados intensivos, onde está o meu pai, tenho de passar pela entrada das urgências.
E faz imensa confusão, porque todos os dias estão lá pessoas diferentes, agarradas umas às outras, a fumar e a chorar.
Todos os dias vou lá e todos os dias vejo pessoas diferentes em desespero.
Ouço frases das histórias de alguns quando passo, vejo lágrimas a cair pela cara, piso lenços no chão.
Romenos, brasileiros, portugueses, ingleses, espanhóis, já ouvi todas as línguas, à porta daquelas urgências.
E ali, todos os idiomas são iguais.

O Meu Pai - II

Infelizmente, o meu pai continua na mesma.
Coma profundo, sem reacções.
Ele está adormecido e eu, uns dias estou triste-standart, outros dias estou arrasado.

Porém, como a vida tem de continuar, mais vale um gajo encarar isto com algum humor do que andar aí a chorar pelos cantos agarrado às saias das senhoras que passam no metro.
E eu tenho um humor da cor da maioria dos habitantes da Cova da Moura.

Assim, passo a enunciar algo que me revolta.
Como muitos poderão saber, fiz ontem o último (espero) exame do meu curso.
Correu bem, dadas as circunstâncias.
Odeio ser avaliado, como a maioria das pessoas.

Mas o que me chateia é que, mesmo em coma, um gajo está a ser avaliado.
Ontem falei com um médico que me disse que o "score" do meu pai é muito baixo.
O score mede-se consoante o nível de reacções que o comatoso tem, como resposta a dados estímulos.
O score vai desde zero (meio-morto) até 15 (quase-a-acordar-do-coma)
Esses estímulos vão desde pequenos beliscões até dores que fazem o Stephen Hawking fazer os 100 metros em 7,4 segundos, bem como reacções ao som e à luz, entre outros.

E o meu pai é um calão!!
Tem um score de 3 ou 4.
Não há direito!
Mesmo em coma um gajo é avaliado (à revelia do próprio) e fica com fama de calão, porque tem más notas.
O que eu disse ao médico é que ele não devia estar à espera do exame e então não se preparou devidamente.
A ver se o chavalo estuda, para no próximo rebentar a escala.
.

terça-feira, julho 03, 2007

O Meu Pai

Como custa escrever isto.
O meu pai está em coma profundo.

Na sexta dia 29 ia a passar na Ponte 25 de Abril e, sem sabermos ainda como, chocou com um carro, caiu da mota e aterrou num coma.
Os paramédicos do INEM (os que vão naquele carro de dois lugares, um verdadeiro mini-hospital) tiveram de o reanimar 5 vezes, pois ele insistia em entrar em paragem cardíaca.

O meu pai é rijo, há-de acordar e voltar ao normal.
Porém, agora não há nada a fazer, apenas esperar que a rigidez o leve a acordar.
Tem a perna esquerda partida em dois sítios, o esterno partido, o pulmão esquerdo perfurado, a clavícula esquerda partida e um traumatismo craniano muito grave, por causa de ter partido a cabeça na nuca, apesar de levar capacete.
Imagino a queda e o embate.

Não sou muito de contar assim a minha vida pessoal na internet.
Mas que isto sirva de exemplo de que realmente não acontece só aos outros.
Aproveitem quem têm, pois de um segundo para o outro podem perdê-los.

Não sei quanto tempo estarei sem escrever aqui, mas agora não ando com muita vontade.
Se houver notícias aviso.

Caraças, ele tem de acordar e ficar bom.
Só pode.
 
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