quarta-feira, agosto 17, 2005

força nas canetas

retrocedamos.
corria o ano de 1989.
a acção, essa, decorria na escola nº24 do bairro de s.miguel.
eu andava na sala 2, com a professora maria de lurdes marques da parte da manhã.
à tarde estava na turma da cantina, com a monitora rosarinho.
esta monitora já morreu, muito nova. gostava muito dela.
nessa cantina, mítica, tínhamos as actividades de tempos livres.
uma dessas era preencher os desenhos com a cores indicadas nas legendas.
quem tinha as canetas de feltro "molin" de 12 unidades estava bem na vida.
quem tinha as de 24 era da classe média-alta.
quem tinha as de 48, que se dobravam em quatro partes de 12, era milionário.
ao contrário, quem tinha as "carioca", era pobre.
curiosamente, quem não emprestava as canetas porque "a minha mãe não deixa" eram os milionários.
quem emprestava, mas era do benfica ou do sporting (não há crianças do porto), advertia que "podes usar todas menos o vermelho/verde porque está muito gasto e preciso dele para pintar a bandeira do benfica/sporting".
quem estava bem na vida, emprestava todas menos as que já tinham o bico quase a partir, de mandar tantas canetadas na mesa.
os pobres simplesmente não precisavam de emprestar porque "as tuas não são molin, não prestam!"
mas quando a coisa apertava e os "molineros" precisavam dos "cariocas" já a porca torcia o rabo.
e aí a justiça impunha-se, ficando muitos símbolos, casinhas com chaminés e aviões a jacto por pintar.
porque se há certezas nesta vida, esta é uma delas:
"se tu não emprestas as tuas canetas, eles não te vão emprestar as deles."

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