segunda-feira, abril 30, 2007

Nem Hetero, Nem Homosexual

Com a garrafa de plástico em cima da mesa, o professor começa a aula.
Também com o portátil em cima da mesma mesa, a mesma aula começa.
Todos sabemos que água e aparelhos electrónicos não são aconselháveis parceiros.
Nem hetero, nem homosexuais.
De início, a garrafa estava fechada, não causando transtorno ao aparelho rectangular negro.
Porém, dado o calor dentro da sala, o professor rompe as barreiras, salta as fronteiras e, sem passaporte, abre a garrafa, bebendo um pouco e pousando-a de seguida, aberta, ao lado do computador.
De imediato se sente uma tensão a pairar.
O professor gesticula, fala alto, emociona-se com o seu discurso, sentado na cadeira, à mesa, fazendo movimentos bruscos junto do casal mencionado.
Casal, nem hetero, nem homosexual.
Com um gesto menos preparado e mais inadvertido, acerta com as costas da mão direita na garrafa de água.
O computador, ao ver a sua amiga ser brutalmente empurrada, em vias de tombar desamparadamente na mesa, toma uma brava atitude.
Qual Martim Moniz, pretere o seu corpo e prefere o salvamento, lançando-se para amortecer a queda da sua amiga.
A garrafa aterra nas teclas macias do portátil, derramando parte do seu interior, mas não o suficiente para ser enviada para o caixote amarelo do ecoponto.
Chorosa, observa o seu companheiro, que tinha acabado de dar o soft e o hardware ao manifesto.
Ele partia agora, sem que ela pudesse demonstrar o carinho que por ele nutria.
Carinho, nem hetero, nem homosexual.

2 comentários:

Nandinho Jr. disse...

muito bom....
e tocante..
com um fim emocionante, tal e qual romeu&julieta.

um conselho: se não queres que tal te aconteça, não deixes o teu portátil com o André. Há quem diga que ele tirou um curso de especialização em "as diferentes maneiras de deitar água num portátil". :)

Anónimo disse...

Eu a água vai logo para o convento, e o computador para o colégio militar para não haver cá confusões. A ela dou-lhe bueda doces e chamo-lhe Belimunda para ficar gorda e feia e não andar para aí a portar-se mal, e ele nunca há-de estudar e será acólito e depois confrade de uma ordem qualquer. Ah, era só que mais faltava.

 
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