um dia destes, no meu local de trabalho em part-time, decidi (estupidamente) ir beber um cafézinho.
dirigi-me à máquina e optei por abordá-la como se de um cão se tratasse, de mão aberta e devagar, para que me pudesse cheirar e não me arrancasse um dedinho.
"é uma bela máquina", dizia eu para o fantasma ao meu lado, com o intuito de a elogiar e fazê-la babar-se, de preferência para dentro da minha chávena.
feito o contacto inicial, já com alguma confiança, abro o dispositivo, coloco neste a quantidade certa de café para me abrir as pálpebras e "zumba", atarracho-o de novo na chavala.
"on", chávena prontinha a levar com a torrente cafeínica, pacote de açúcar já aberto na mão...
nada sucede.
"hmmm...o erro é sempre humano", penso.
vai de pousar o açúcar, tirar a chávena e espreitar por debaixo do mamilo da senhora.
nisto, visto ter-me esquecido de tranformar o "on" em "off", começo a sentir uma ligeira quimadura húmida na testa.
rapidamente ponho-a em "off" e vou a correr buscar um pano à casa-de-banho.
quando acabo de limpar o anúncio à buondi que circulava na minha cara, reparo que a correria levou a que cerca de 20ml de café se tornassem os melhores amigos da minha camisa.
bonito.
volto para a máquina, a tempo ainda de constatar que o açúcar, emocionado com tamanha algazarra, se tinha jogado para o chão, qual liedson, espalhando-se pela alcatifa.
da minha boca sai um palavrão digno de taberna do cais do sodré.
volto a colocar a chávena debaixo do mamilo do aparelho, ponho-o de novo em "on" e espero mais um pouco.
desta feita para ver o café a sair em direcção ao fundo da chávena como se de um miúdo de 30kg na rampa mais alta do aquaparque se tratasse.
ou seja, galvanizado pela velocidade, chegou ao fundo da chávena e logo começou a sua subida pela borda, lançando-se na direcção mais uma vez do quê?
da minha camisa, claro está.
desta feita solto mais um palavrão digno de taberna do cais do sodré, mas agora em inglês.
se bem me lembro, chamei um nome à mãe da máquina.
de seguida, num impulso furibundo (marido da bunda, furibunda) mando-lhe um soco tal, que o manipulo do café se solta e "zás", voa em direcção à alcatifa começando uma relação do foro sexual com o açúcar.
ligeiramente chateado com " f " grande, começo a tentar acabar com o canal 18 ao nível do chão, enquanto proferia palavras dignas de banda sonora dum filme do género.
nisto sinto uma palmadinha nas costas.
viro-me e dou de caras com quem?
a empregada da limpeza a oferecer-se para apanhar aquilo?
não, claro que não.
com o chefe a dizer-me que
"e vão duas...à terceira é de vez."
volto para a secretária com a camisa igual à de um miúdo de 3 anos depois de comer uma sopa de feijão preto, sem ter posto o babete.
adormeço passados cinco minutos, pois café, nem vê-lo.
quer dizer, vê-lo vi, apenas não o bebi.