quarta-feira, dezembro 20, 2006

uma ceia de natal (parte II)

Efectivamente, lá vinha o Tiago, de 24 anos, mas o único ainda com paciência para se mascarar e fazer os três sobrinhos mais novos felizes.

O Ricardinho, de 3 anos, que nem sequer repara no esforço inglório do tio, entretendo-se antes a rabiscar o chão de mármore da sala, com umas canetas de acetato que a sua prima mais velha, Teresa, 8 anos, lhe tinha dado especialmente para o efeito.
A Margarida, de 6 meses, dormia no sofá da sala, enquanto dois primos lhe queimavam as pontas dos cabelos com o isqueiro do pai, e a já referida Joana, que em vez de apreciar o trabalho do seu tio, preferia estar a comer os restos das bolachas que se encontravam num pires, no chão que, supostamente, pertenciam ao gato.

O gato é o "capado", nome que vem, é claro, do facto do gato ter sido capado aos 4 meses, após ter estabelecido o recorde do quarteirão na categoria de procriação, visto ter engravidado as 7 gatas da vizinha de cima, tendo , para se deslocar de casa em casa, utilizado as escadas de emergência do prédio.

Enfim, lá vinha o valente Tiago, que já dava graças a Deus por ter corrido tudo bem na entrega das prendas, quando, ao sair da varanda, sofreu uma rasteira dada pelos seus sobrinhos gémeos, um de cada lado, numa mistura de Jorge Costa e Paulinho Santos, indo embater com a cabeça no corrimão da varanda, abrindo-a de par em par, criando um pequeno ribeiro de sangue, o que despoletou uma berraria geral.

Uns pelo facto de a varanda estar a ficar suja, outros pelo simples facto do pobre rapaz ter rasgado as calças novas na queda e ainda outros pelo facto de a coca-cola ter acabado e não haver nenhum supermercado aberto onde comprar.

Os únicos que prestavam atenção ao rapaz inanimado no chão eram os dois gémeos, que apenas se aproveitavam da posição ridícula do tio para se rirem às gargalhadas e lhe darem uns quantos pontapés nas costas e nas pernas, terminando a actuação com um glorioso atirar da água que se encontrava no jarro mais próximo para cima do corpo do tio, que já estava coberto por dezenas de papéis de prendas, atirados para lá à toa, após o "ataque" aos sacos destas.

A avó, ao reparar que as suas hortenses tinham acabado de ficar sem a sua preciosa água e a sua varanda estava atulhada de papel de natal, decide:

-Vá lá meninos, tudo na rua, já é meia-noite e doze e eu quero-me ir deitar! Apanhem os papéis, lavem a louça, acordem o Tiago e digam-lhe para limpar a porcaria toda que fez na varanda, dêem de comer ao gato e ponham os meus presentes em cima da minha cama. Os presentes de que não gostarem, ponham-nos em cima da mesa que eu dou-os como prendas ao pessoal lá da repartição.

E assim foi. O Tiago passou mais uma noite de natal no hospital, todos tiveram as prendas que não queriam, exceptuando o Pedrinho, que recebeu o cócó falso que já ambicionava há tanto tempo, os tios foram levar as avós a casa, em cascos de rolha, e o “capado”, para variar, ficou esquecido na varanda, pensando se não seria melhor atirar-se lá para baixo, pondo assim fim a uma vida de agonia.

Escusado será dizer que o avô teve de pedir outro empréstimo ao banco para pagar os múltiplos estragos causados pelos seus netos por toda a casa, ao longo da noite.

Enfim, mais uma noite de Natal como tantas outras…

3 comentários:

baGa disse...

viva o espírito natalício!

Anónimo disse...

coitado do gato... só porque era bom no que fazia foderam o gajo... é por isso que este país não vai para a frente... ehehhehehe

Anónimo disse...

O fim do texto vê-se que ainda estavas a aprender a ser o (grande). Hoje, és tu o Pai Natal, dando aos teus (igualmente grandes) um textinho aqui e ali, para quem se porta bem e conhece o teu blog. Oh anjinho, vê lá se pó ano começas a dar borlas para o bar da Católica. ehe
Abraçon, Bom Natal!

 
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