O (grande) autor desempenha funções diurnas que o levam a poder estacionar na zona de advogados num parque de estacionamento de um Tribunal.
Para tal, é usual que o sujeito coloque a sua cédula profissional no tablier interior do veículo, para se identificar e ser identificável.
No caso ora relatado, chegado ao dito parque, a zona para advogados estava cheia de veículos não identificados.
O resto do parque, claro, estava ocupado por formigas e ervas daninhas.
Dada a hora da matina e a diligência começar daí a dez minutos, aparcou o (grande) autor no lugar para cidadãos "normais" imediatamente ao lado do último lugar para os cidadãos "anormais", os tais, colocando a sua cédula, bem visível, no tablier.
A visita ao santuário da Justiça tardou 50 minutos.
Quando o vosso "anormal" regressou para junto da sua viatura, é óbvio que a mesma se encontrava multada e bloqueada.
Talvez até violada, mas como não falava, nada informou.
Junto dela, os primos dos Emeis, os Tejos.
Emel, Parques Tejo, farinha do mesmo saco, mas confeitaria que já enjoa um gajo.
Claro que informaram o (grande) autor numa linguagem técnica irrepreensível, que a viatura-ligeira-de-quatro-rodados estava bem estacionada, mas que não tinha efectuado o pagamento, que se efectua através da introdução de moedas no interior da parte de dentro da máquina ali ao longe toda cheia de gatafunhos porque os miúdos da escola aqui em frente não têm EVT e então vão brincar aos artistas para a rua e que se não tinha lugar disponível onde tinha direito a estacionar sem pagar por causa de uns quaisquer portugueses, devia ter chamado a polícia, para rebocar os invasores, que aquela zona especial de corrida era da competência da polícia.
Claro que depois de tentar argumentar com os jovens e apelar à compreensão deles, que um gajo pôs a cédula e estacionou meio metro ao lado da zona onde era suposto para não ter de pagar e que o parque estava vazio, depois de ouvir frases como "mas nós fomos compreensíveis consigo, esperámos meia-hora", chega um gajo à conclusão que a cédula profissional vale tanto ali como um cartão do Continente na caixa do Pingo Doce.
E que um cérebro naquelas cabeças seriam pérolas a porcos.
Pague-se então 60€.
A máquina para o cartão não funciona, tem de ir ao multibanco mais próximo.
Que fica a? 2Km, está claro.
Como começou a chover, um dos jovens lá criou no local um serviço de transporte ad hoc, levando os donos dos veículos bloqueados a levantar dinheiro.
Isto é verídico.
O (grande) autor foi à frente, lugar do morto, enquanto o funcionário levou os infractores
a levantar dinheiro.
Só faltou a lancheira e o "Sr. Condutor, ponha o pé no acelerador".
Já com 60€ no bolso, de volta e junto do veículo, desbloqueado o mesmo, "pode seguir, obrigado".
Mas o (grande) autor não tinha pago.
E podia ir-se embora sem o fazer, porque com a ida ao multibanco e a chuva e tantos bloqueados para tão pouco cérebro, os jovens já não sabiam a quantas andavam.
- Posso-me ir embora?
- Sim, sim, obrigado.
- Então e não querem que pague?
E de repente 60€ passaram a valer bem mais e transformaram-se no preço a pagar pelo bilhete na primeira fila para assistir à expressão facial dos três jovens e aos agradecimentos por tanta e tão (grande) honestidade.
- Trouxa sou eu, não é?
- Não, você é sério... obrigado.
Ser "sério" é não permitir que os 60€ fossem sair do bolso deles ao fim do dia, quando as contas fossem bater mal.
Um gajo sente-se um bocado otário, mas um gajo dorme bem à noite e dá o exemplo.
Alguém que o faça.
Porra.