terça-feira, novembro 23, 2010

Esparguete

Ontem, enquanto estava na minha mãe, ligou-me a Zeca.
Na minha mãe salve seja, na casa dela.
Liga-me sempre quando estou lá, até parece que tem um dedo que adivinha.
Daqueles dedos que os picas do metro insistem em deixar ganhar unha e depois limam para ficar bem afiada e chegar mais fundo.
Desde que me separei da Zeca que ela insiste em ligar, sempre que estou na minha mãe.
Salve seja, porra.
Dantes, quando estava com a Zeca, ligava-me a minha mãe.
Agora, estou na minha mãe, liga-me a Zeca.
Deve ver-me da janela, com os tamparuéres da minha mãe na mão e não resiste em ligar-me a fazer-me a cabeça.
Deve querer ser ela a lavar-me os tamparuéres, com certezas.
Fui lá fazer uma máquina e comer uma bucha, devolver os tamparuéres vazios e agarrar uns cheios de sopa e esparguete com carne.
Adoro a carne guisada da minha mãe.
A esparguete é que fica sempre cozida demais, mas prontos, um homem não pode ter tudo.
Ao menos a Zeca não deixava cozer demais a esparguete.
Mas também não sabia fazer outra coisa.
Sempre esparguete, esparguete, esparguete.
Chiça.

1 comentário:

rita pamp disse...

Está engraçado. Parece do Lobo Antunes.
Curiosidade: a moda da unha comprida do dedo mindinho nasceu na passagem do modelo industrial para o modelo dos serviços. Os homens que trabalhavam em escritórios e que eram os colarinhos brancos - por oposição aos colarinhos azuis das fábricas -, deixavam crescer a unha como demonstração de que não trabalhavam nem na terra, nem com maquinaria cheia de engenhocas e botões. Experimentavam agora uma existência mais limpa, da qual se orgulhavam e que, o dito símbolo, lhes permitia ostentar.

 
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