Está o (grande) autor neste preciso momento sentado numa cadeirinha de plástico daquelas de bar da praia ou de esplanada de café à beira de braço de rio ou de esplanada em qualquer café que se aproxime minimamente de um curso de água, nem que seja um curso de água provocado pela mistela que as várias porteiras de vários prédios contíguos atiram para a rua depois de lavarem a escadaria.
E porque raio está sentado e a escrever em vez de estar a beber uma cervejinha fresquinha?
Perguntam bem.
Ora precisamente porque está à espera que comece um espectáculo (um bailado, uuuuhh, que erudito) que terá lugar na rua, num largo de Lisboa.
Como a maior parte deste tipo de iniciativas, a entrada é gratuita.
E como a entrada é gratuita, o espectador tem de chegar pelo menos um hora antes, para conseguir um lugar sentado.
E, por causa desse detalhe, claro que não há alminha que aqui esteja que não esteja também a guardar um lugar para um espectador ainda ausente, mas suposta e brevemente presente.
O que nos leva até à arte de guardar-lugares-para-os-outros-que-estão-quase-quase-quase-a-chegar.
Toda a gente sabe que para guardar um lugar para um futuro espectador devidamente, é necessário utilizar uma peça de vestuário.
Não serve um livro, uma revista, um copo de plástico, um tupperware, uma esferográfica, um guarda-chuva (se for dos grandes, de pega em curva, serve), uns óculos de Sol, um jornal, um telemóvel, uma mala ou umas chaves.
Tem de ser uma peça de vestuário, senão o marcador corre o risco de que o atacantus-erectus lhe grite que violou as regras da marcação de lugares e, como tal, terá de ceder os lugares que marcou, mesmo que só tenha marcado 9.
Ora, porra, haja maneiras.