lá dentro, no Parlamento
gritam cada um do seu palco
enquanto o desespero, o sofrimento
da galeria, os olha cá do alto
na cabeça têm o poder
o dinheiro e a impunidade
no corpo a vontade de comer
a cara podre e a alarvidade
dia a dia da semana
semana a semana do mês
a culpa morre sozinha na cama
e mais uns se juntam à lista dos porquês
porque é que não há trabalho
porque é que não há dinheiro
porque é que ninguém baralha o baralho
e sai sempre tudo ao mesmo empreiteiro?
aqui se vive do futebol
do fado e glórias passadas
eles lançam mais um e outro anzol
e a malta agarra-os às dentadas
nunca mudarão, esses senhores
que de quatro em quatro se viram
uns dias de frio outros de calores
mas os bolsos vazios nunca sentiram
porque somos e vivemos numas torres gigantes
construídas pelos cá de baixo
para que lá em cima vivam os importantes
e no rés-do-chão se viva cabisbaixo
eles gritam nomes e gesticulam
e o povo sempre calado, como deve ser
eles de si próprios e da sua sombra se orgulham
e a malta cega, sem nada perceber
vamos lá malta, pôr ordem nesta casa
aproveitemos os Erasmus e os INOV
vamos mostrar que os podres aqui não batem asa
e revivamos mil setecentos e oitenta e nove